terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma certa hora da noite.







Ela não dormiu de novo!
Rolou a noite inteira na cama como acontecera nas ultimas cinco noites.. Se lembrando, de um passado que não poderia ter voltado. Seja ele fazendo bem, ou mal !
Quando o passado decide voltar traz tudo de volta com nitidez. Os cheiros, as vozes, os lugares, os olhares...as traições, as brigas,as revoltas, as vinganças.. Traz o gosto amargo do velho. Do repetido. Do regredido.

Acendeu a luz do abajur devagar, enquanto juntava as pernas e levantava da cama.
Foi ate a cozinha com os pés no chão e enrolando o cabelo.
Bebeu um copo d'agua e sentou-se na mesa.
Desde pequena, via seu pai sentado da mesma forma sempre que perdera o sono, seja lá por qual motivo!
Olhou todo o seu apartamento.Quando o passado volta, até mesmo as coisas novas nos fazem retornar a alguma cena. Independente do tempo em que estejam com você. A parte 'boa'? Ela relembrava das brigas.. das lágrimas.. os detalhes tão cuidadosamente apagados, ou melhor, arquivados vieram a tona.
O telefone toca de novo. O mesmo número de cinco dias. Ela simplesmente ignora como vinha fazendo desde que atendera a primeira, e reconhecera a voz.
Ela desliga, e se deita... encolhida.. com os cabelos cobrindo-lhe o torax,ela respira fundo.. e sorrir.

Sorrir por estar liberta. Sorrir por estar sozinha, por ter optado por isso sem medo, por caminhar com suas próprias pernas, por dirigir o seu próprio carro quando tarde da noite. Sorri por dormir não tão mais sozinha. Ele não compreendia que não bastava estar lá, tinha que se fazer presente no olhar, no toque, nas palavras, na carne. Não no simples estar. Tinha que sorrir junto, olhar junto, rezar junto, pensar junto.. E agora ela fazia sozinha por preferência. Gostava de contar só com ela nas noites quentes..

E se virou. Desligou o abajur com delicadeza. Sem barulhos... fechou os olhos.. e dormiu. A gente sempre dorme uma certa hora !

sábado, 23 de janeiro de 2010

O que fazer quando entendemos o óbvio ?




(Sorriso) Tudo foi entendido e programado com delicadeza. Agora, o que invadia o seu corpo não era mais a dúvida, mas sim, um conflito entre adrenalina e vontade. Duelo entre prudência e ousadia.
Ela começara a entender, que nem todas as pessoas concordavam com seus sonhos, e não eram obrigadas a concordar, caso não tirassem um proveito disso tudo.Descobrira a chave dessa magia: A arte de imaginar e produzir sozinha.
Parece fácil, mas quando você se vê prestes a começar a realizar um sonho, tem que dividir isso com alguém. É natural. Não conseguimos carregar um 'fardo' sozinhos, seja ele bom ou ruim. Somos programados a compartilhar.

E já no começo ela percebeu que para conseguir, o silêncio seria fundamental.

Pensou. Escreveu. Analisou. Pôs tudo no 'papel' e voilá, tudo com suas vírgulas e pontos nos lugares certos.
Respirou fundo. Colocou uma senha no arquivo, para garantir que nenhum mexeriqueiro ousasse em entender seus objetivos. Respirou fundo e fora trabalhar... a propósito, teria de fazer muito isso nos próximos três anos. Os alicerces do seu segredo é uma receita equilibrada entre dinheiro, sonhos e realizações. (Sonhos e realizações podem soar como sinônimos, mas se analisar bem, são extremos.)

Chegara às 9 hs da manhã. Tomara um café forte,e fora pra sala..Trancou-se olhou para sua mesa. Só havia papéis.. Projetos interminados,e-mails não lidos, contratos a assinar. Levantou a sobrancelha sutilmente enquanto mordia os lábios, e deu a ultima e tensa golada no café. Foi pausadamente organizando por ordem de importância.Em 6 hs maçantes de trabalho exaustivos acabara tudo. Foi almoçar já na hora do café das 4hs em Londres... Almoçou e subiu até o escritório comendo uma pêra e cantarolando. Ficou o resto do tempo trabalhando no seu projeto. Saiu do trabalho e foi pra casa... organizou umas coisas e lembrou de algo que não fazia a anos. Montou seu telescópio, fora pra cima da casa e ficou horas a contemplar a imensidão do universo (...)
E lembrara de trechos de um dos seus livros preferidos... Pequeno príncipe.

"—Tu és ainda para mim um garoto igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se
tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim ÚNICO no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Inaceitável.


Estive lendo umas colunas de Jornal hoje, e sou brutalmente impressionada com a confissão de Jânio Quadros, no leito de morte à seu neto, Jânio Quadros Neto.
Em confissão, ele explica o motivo de sua renúncia, e como sentia se mal referente ao ocorrido posterior a esta !
Inaceitável. Jânio, queria voltar ao poder nos 'braços do povo', como Vargas. Até mesmo sua carta de renúncia, se parece muito com a carta suicida de Vargas.


"Eis trechos do diálogo entre o ex-presidente e o neto,no hospital.As palavras de Jânio não deixam margem de dúvidas sobre a renúncia :

-‘’Quando assumi a presidência, eu não sabia da verdadeira situação político-econômica do País. A minha renúncia era para ter sido uma articulação : nunca imaginei que ela seria de fato aceita e executada. Renunciei à minha candidatura à presidencia, em 1960. A renúncia não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi(…)Tudo foi muito bem planejado e organizado. Eu mandei João Goulart (N:vice-presidente) em missão oficial à China, no lugar mais longe possível. Assim,ele não estaria no Brasil para assumir ou fazer articulações políticas. Escrevi a carta da renúncia no dia 19 de agosto e entreguei ao ministro da Justica, Oscar Pedroso Horta,no dia 22. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência. Pensei que os militares,os governadores e,principalmente,o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder. Jango era,na época,semelhante a Lula : completamente inaceitável para a elite. Achei que era impossével que ele assumisse, porque todos iriam implorar para que eu ficasse(…) Renunciei no dia do soldado porque quis senbilizar os militares e conseguir o apoio das Forças Armadas. Era para ter criado um certo clima político. Imaginei que,em primeiro lugar,o povo iria às ruas, seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Achei que voltaria de Santos para Brasília na glória. Ao renunciar, pedi um voto de confianca à minha permanencia no poder. Isso é feito frequentemente pelos primeiros-ministros na Inglaterra.Fui reprovado.O País pagou um preço muito alto. Deu tudo errado’’."

Revoltante.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Baseada em fatos reais !









E ela simplesmente não ligou.

Não que não tenha sentido vontade, talvez fosse só uma forma de se proteger.
Chegou em casa umas 8 hs da manhã, tirou a roupa ainda com cheiro dele, e tomou um banho demorado.. deixou umas lágrimas cairem, e uns sorrisos aparecerem. Nada que com algumas horas de sono fossem passar. Descansou menos de duas horas, e despertou.
Pegou o vestido mais largo que encontrara e fora sair um pouco.
Manhã de sábado.Primavera. Um tempo perfeito para ficar sozinha.
Desceu até a rua, andou algumas quadras, e lá estava. O paraíso;
Um mar com uma ressaca que impressionava.
Tirou as sandálias brancas, e molhou os pés, como de costume.
Fez uma oração singela, e se sentou na areia morna.
Havia algumas crianças correndo, e alguns casais namorando. Mas desta vez, ela nem pode prestar muita atenção como sempre fizera. Estava com a cabeça cheia de coisas para parar de pensar.
O cheiro do mar impregnava seus cabelos, sua pele arrepiava devagar,as lágrimas e os sorrisos apareceram novamente, entretanto, com um outro sentido.
Ela preferiu ser imparcial. Nunca tivera tempo para não pensar em nada específico. Sempre os problemas, ou os agradecimentos para pensar no cenário predileto.
Respirava calmamente, e emitia uma melodia se balançando devagar.

(Relato pessoal)

Depois de algumas horas naquela atitude de contemplar a ressaca, e ignorar o semblante dos coadjuvastes, levantei e sai.
Voltei pelo mesmo caminho que havia chegado.
As pessoas se divertiam numa feira Hippie próxima a praia.E eu começava a me arrepender de não ter levado a câmera. Gosto de fotografar o natural.O imprevisível.

Fui pro meu apartamento, tomei outro banho, e pus meu macacão de todos os sábados. Fui pra varanda, peguei uma tela em branco, e ... não tinha nada pra pintar.
Tirei o macacão pus uma calça com blusa branca, e entrei no carro.
Dirigi ate a casa de uma amiga, e não entrei. Quando já estava entrando no carro novamente, ela me avista.
"- Ei! Já ia embora... Sai e não avisei ninguém, Jorge disse que eu não estava ?!"
"- Ah! Não, eu só vim comprar um livro, e casualmente estacionei o carro aqui. "
"- Ah, mas onde está livro ?!"
"- A livraria estava fechada." (Hesitei)
"- Sophie, a livraria está aberta desde às 9 hs. O que houve? Como se não te conhecesse!"


Nesse exato momento ela me abraça. Eu vejo Jorge saindo,e nos deixando uma casa, garrafas de vinho e uma história triste para ser retratada. Tudo o que eu não queria.

"- Sophie, o que faz aqui querida, qnto tempo !!!" disse Jorge sorrindo
"- Olá Jorge, estava por perto, e decidi parar."
"- Amor, já vai?!" disse Luciana
"- Já querida. Vamos jantar fora hoje, ok!? Te amo. Estou atrasado."
"- Ok amor! Tb te amo. Se cuida"
"- Um prazer reve-la Sophie, apareça.. "
Só fiz um sinal com as sobrancelhas... e um sorriso forçado.

Entramos. Ventava forte...e meus cabelos se embaraçavam.
Luciana, como sempre ! Tirara o casaco. E fora pra cozinha. Pegou o vinho, e taças.
E só me olhou !
Fui dizendo tudo sem detalhes.
E ri no final. Não queria ele por perto. Nem sei se aquele era o verdadeiro nome dele. Mas recordava-me daquela cena com outro protagonista.
Algumas horas passaram, e no final me fez bem ir ao encontro de Luciana, ela sempre sabe o que me dizer nesses momentos.

Final de tarde, já estava melhorando.
Fui no meu ateliê perto da praia. Entrei. Organizei umas papeladas da próxima exposição. Tirei as fotos do varal, e fui cobrindo as pinturas.

Quando sai já era noite, e lembrei da existência do celular.. decidi dar uma olhada. Algumas milhares de chamadas não atendidas... Entre elas, mensagens de um nº desconhecido.

"Tenho certeza que está sentindo o mesmo que eu. Mas isso passa! Nada como outra noite, com um outro alguém, em outro bar."

Ignorei com um nó na garganta, e aceitei o convite de uns amigos. Outro bar.
Outra situação. Outro encontro casualmente previsível.